O Ciclo de Sabotagem das Tecnologias de Desenvolvimento de Software

Esses dias eu estava super cliché, meio crítico com o fato de surgir tanta tecnologia nova o tempo todo. Praticamente a cada 4 anos a gente precisa se renovar para não ter o aspecto técnico do currículo anulado nos 4 anos seguintes. Tudo bem que muitas dessas novidades advém de um movimento natural promovido pelas grandes inovações (desenvolvimento mobile por exemplo). Mas é comum assistir tecnologias morrendo e dando lugar a outras que produzem o mesmo resultado, sem justificativas convincentes.

Por um instante cheguei a formular a hipótese que na verdade isso era um fenômeno de procrastinação coletiva promovido pelo [in]consciente coletivo dos profissionais de TI, que acham super recompensador gastar seu tempo tendo que reaprender como fazer o mesmo de forma diferente. Talvez tenha um pouco disso também. Mas pensando melhor, percebo também um padrão de sabotagem  que é descrito no ciclo abaixo:

#1 –  The dawn of man: Surge uma Nova Tecnologia ®, ainda incipiente , mas que promete suprir uma deficiência do ferramental vigente.

#2 – O buzz: A Nova Tecnologia ® atrai a atenção de acadêmicos e entusiastas que se aproveitam do pioneirismo para surfar na crista da onda, publicando em revistas, palestrando em eventos, etc. Mas tudo se resume ao buzz. O mercado corporativo ainda olha com desconfiança.

#3 – Mordendo a maçã: Versões novas são lançadas, boas práticas são disseminadas, cursos, artigos, tutoriais, tópicos em fóruns, perguntas e respostas saturam a web. Convencidos pelos gurus, vai surgindo na manada de profissionais espectadores o desejo de adotar a Nova Tecnologia ®, tanto pelo prazer de aprender algo novo quanto pela necessidade de manter seus currículos atualizados.

#4 – As invasões bárbaras: Com o mercado de trabalho recheado de defensores da Nova Tecnologia ®, corporações de impacto passam a adotá-la em projetos relevantes que apresentam desafios reais, em escala real. E esses projetos introduzem um outro fator crucial: a pressão por prazo. Prazo leva à pressa que leva ao aumento de recursos. Nesse clima, uma manada de profissionais sub-qualificados e por vezes sub-remunerados, forçam pro-ativamente o uso indiscriminado da Nova Tecnologia ®. Tudo é resolvido da forma mais imediata o possível, com muita gambiarra, sem avaliar alternativas, sem conhecer recursos avançados, buscando resultados rápidos que salvem o projeto (e também seus empregos). Julgando-se produtivos e confortáveis com a Nova Tecnologia ®, está formado um batalhão de martelos que acha que tudo é prego.

#5 – Sodoma e Gomorra: Com o colapso de grandes projetos que adotaram a Nova Tecnologia ®, começam a sair cases de insucesso, artigos que condenam seu uso e o famoso anúncio: “a Nova Tecnologia ® morreu“. Por mais que os gurus afirmem que são os profissionais que usaram de forma errada, e que as novas versões incluam recursos que suprem as deficiências e introduzem melhorias, a tecnologia continua estigmatizada por suas restrições conceituais e efeitos colaterais do uso costumeiro.

#6 – Let’s twist again: Volte ao Passo #1.