Sempre fui crítico com o rótulo arquiteto de software. Se a gente parar pra pensar, é um nome um tanto quanto mal escolhido. Na engenharia civil, o arquiteto é o desenhista do prédio, o artista do concreto. Oscar Niemeyer rabiscava formas modernistas no papel e pouco se importava em como aquilo viraria realidade, o que de fato seria um problema para os engenheiros.
Já na área de software, quem costuma imaginar coisas difíceis de por em prática é o cliente, o demandante. Para executar suas idéias mirabolantes há de se contar com super-heróis capazes de eleger plataformas, tecnologias, protocolos, padrões, componentes, topologias e de projetar como isso tudo vai conversar. O curioso é que o nome que se dá para esse super-herói é justamente arquiteto de software.
Eu particularmente acredito que essas atribuições sejam apenas a descrição de um bom desenvolvedor, ou para ser mais justo ao argumento, um bom engenheiro de software. O curioso é que quase não se vê o termo engenheiro de software circulando em vagas de emprego no mercado brasileiro. Acredito que isso se dê por alguns fatores.
O primeiro deles advém da própria distinção que os desenvolvedores gostam de ter em relação às demais engenharias. Há todo um brio envolvido no domínio da arte de desenvolvedor sistemas, principalmente quando você fica anos estudando muito além da programação. Talvez não queiramos ser confundidos com engenheiros civis ou mecânicos. Enquanto isso, na mão contrária do nosso ego, o mercado de trabalho acha ótimo que nos consideremos apenas desenvolvedores, uma vez que engenheiros tem conselho, piso salarial e algum respeito perante a sociedade. Engenheiros constroem prédios. Nós “mexemos” com informática.
Mas então, se formamos uma manada de desenvolvedores egocêntricos, quem são os famosos arquitetos de software? Pessoalmente ainda acho que um arquiteto é nada mais nada menos que um bom engenheiro de software, com experiência, senso crítico e visão micro e macro sobre a pilha de tecnologias envolvidas num sistema. O que percebo é que os que se dizem arquitetos buscam nesse rótulo uma distinção, não querem ser confundidos com meros programadores, uma atividade mais básica. Da mesma forma, os desenvolvedores também não querem se responsabilizar por decisões que irão assombrar o projeto pelo resto dos dias, podendo trazer impactos diretos na performance e disponibilidade do sistema. E é nesse contexto que a arquitetura de software vai se tornando ocultista e mística, fazendo com que os programadores se distanciem do que deveria ser o grande objetivo: se tornar um excelente profissional.
Abandonando os rótulos, o fato é que todo sistema desenvolvido terá uma arquitetura, quer você queira ou não. Cabe a você deixar de ser um simples fabricador de telas e querer absorver e contribuir com as decisões técnicas dos projetos em que você colabora. Busque formar o tal senso crítico, viver experiências, conhecer e experimentar as tecnologias de forma contínua. Não perca de vista o norte da excelência, independente do nome que eles inventam para ela.