Após ouvir falar da Deep Web resolví verificar do que se tratava. O conceito é simples: existe uma parte da web que pode ser visualizada, já que foi indexada por importantes sites de buscas ou pode ser alcançada a partir de links de sites populares e é chamada de Surface Web (Web da Superfície); existe também uma parte da web que não pode, ou não deseja, ser alcançada, e é chamada de Deep Web (Web Profunda). Teoricamente um site da Deep Web nunca deveria ser alcançado, senão por alguem que guarde seu endereço “desconhecido” e não dependa de terceiros para chegar até ele.
Associado a esse conceito simples, há todo um movimento por navegar de forma anônima na web e acessar sites com conteúdo ofensivo ou proibido. Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Esse tipo de site não sobrevive na Surface Web. Os mecanismos de busca penalizam tais sites e deixam de listá-los, geralmente por questões legais ou denúncias. Da mesma forma, sites de hospedagem, plataformas de blog e outros meios de divulgação de conteúdo na Web deixam bem claro em seus termos de compromisso que não se pode veicular nenhum tipo de conteúdo ilegal ao utilizar o serviço. Sendo assim, um site que por exemplo se propõe a ensinar a fabricar bombas, cometer suicídio ou promover a pedofilia, naturalmente não tem vez na Surface Web e acaba sendo banido rapidamente. Isso se dá pois alguém tem que se responsabilizar pela ilegalidade.
É justamente aí que entra o lance do anonimato na rede. Havendo uma forma de utilizar a web sem que ninguem saiba quem são os donos e os visitantes dos sites, abre-se caminho para uma Web sem-lei, onde é difícil incriminar alguém. Dessa forma, esses sites tentam existir em uma outra Web, onde é bem mais difícil saber quem são os “culpados” pelos atos ilícitos. Curiosamente, os usuários assumiram que essa outra Web, anônima, seja também a Deep Web. Mas há diversas discussões filosóficos em torno do assunto, pois anonimato e alcance de sites são conceitos disintos, mas que parecem andar juntos. Percebam uma tendência estranha: existe uma web visível, e existe uma web invisível. De certa forma, os fatos mostram que tudo que é “legal”, acaba sendo visível, pois as pessoas podem acessar, podem referenciar, os buscadores podem listar, sem problemas com a lei. Naturalmente, o que sobra na parte “invisível”, são as coisas ilegais. E para “ver” essa parte “invisível”, as pessoas preferem navegar de forma anônima, já que o risco de esbarrarem em algo ilegal é grande. Eis o elo!
Um dos pilares tecnologicos que faz essa Deep Web (ou a Web Anônima) existir é o projeto TOR (https://www.torproject.org/). TOR é uma tecnologia que faz com que toda sua ação na web seja mascarada por camadas e mais camadas de criptografia. Fica praticamente impossível computacionalmente falando descobrir a origem de um acesso feito a um site. O projeto é mantido com intuito de promover a navegação anônima, com um tom de “protesto”, alegando que não deveriamos ser rastreados e defendendo a liberdade. Naturalmente, a tecnologia caiu nos braços de malfeitores que a utilizam para criar uma Web paralela, anônima, que tem sido associada ao conceito de Deep Web por permitir acesso a conteúdos bizarros, onfensivos, ilegais, que nunca seriam encontrados por vias comuns como Google.
Afim de verificar a “propaganda” (nada boa) dessa Deep Web, baixei o navegador do TOR e acessei alguns sites com listagens de links da Deep Web (perceba que nesse momento, deixou de ser Deep, pois está escancarada). Infelizmente, não se vê muita coisa útil, e, para piorar, ao visitar os links você acaba esbarrando em muita coisas ruins como: venda de drogas, contratação de crimes, pornografia, bizarrices, coleções de fotos de atrocidades, auto-mutiliação, e muitos outros assuntos que, francamente, não precisariam ser acessados por ninguém que deseja se manter dentro da lei e em bom estado de sanidade mental.
Se por um lado achei a tal Deep Web apenas um conceito teórico simples, na prática concluí que não se trata de coisa boa. O tal discurso da liberdade e do anonimato acaba sendo uma ferramenta que permite que crimes como a pedofilia sejam incentivados. Que liberdade é essa que envolve a vida de inocentes? Se algo nao é bom para ser feito/dito na vida real, porque ela deve ser publicada no mundo virtual? Enfim, discussões mil podem ser feitos em cima dessa tal “liberdade” que acaba sempre sendo utilizada de forma errada…